A Diocese de Lamego proporcionou ao seu Clero a realização de um Retiro Espiritual na segunda semana de Janeiro. A participação não foi numerosa e não sabemos se as razões foram analisadas pelos responsáveis, mas uma simples explicação pode levar-nos a compreender a razão para que isso acontecesse: a data foi alterada talvez apressadamente. Foi notada a ausência do clero mais novo, apenas com um representante.
Orientou o retiro o Senhor D. Jacinto, que todos nós conhecíamos e conhecemos pelas suas capacidades e qualidades, escolheu como tema das suas meditações o documento do Papa Francisco, Evangelii Gaudium, que percorreu com os participantes nas diversas considerações do Papa sobre este tema e na sua aplicação à vida espiritual de cada um.
Classificando o Retiro com um encontro connosco mesmos, convidou os presentes a uma análise da própria vida, num balanço centrado na espiritualidade e numa pergunta: onde moras? Era um convite a estar com o Senhor, numa afirmação da nossa fidelidade e num processo de conversão, aliás a finalidade de todos os retiros realizados ao longo da vida. Um apelo ao encontro com Jesus e com Maria mostrou bem os seus dois amores, bem expressos na sua vida ao longo do seu Sacerdócio. Que o diga quem o conheceu e conhece.
E o tema do Retiro apareceu como alvo e meta; alvo a que deve apontar o caminhar dos sacerdotes, meta a procurar e alcançar no esforço de cada dia. Dado o carácter pragmático do Documento do Papa, não deixou de apontar o caminho de conversão, num ano missionário: a conversão em Igreja Missionária, num mundo em crise de compromisso comunitário. Apontando para um discernimento do Evangelho, apresentou a força do Espírito Santo para provocar a «vida no Espírito», de que nos fala o Papa, para vencer a indiferença relativista que se nota no mundo e também na Igreja, apontando o grande risco de que nos fala o nº 2 da Ev. Gaudium, «uma grande tristeza individualista que brota de um coração comodista e mesquinho», o complexo de inferioridade, que podemos vencer com as nossas convicções e a aceitação das nossas responsabilidades. Tomemos como atitude certa a alegria de anunciar e viver o Evangelho, fugindo de uma tristeza sem esperança e de uma sensação de derrota, encontrando sempre o Senhor que nos pede a transformação do nosso coração.
Fez sua a palavra do Papa, ao falar da ternura, cuja manifestação se expressa na capacidade de nos sentirmos próximos de todos, mesmo que tenhamos de abraçar o risco do encontro com os outros. Aqui apontou o exemplo de Maria que se encontra com Isabel e de que o Magnificat é a expressão concreta de um relacionamento capaz de criar uma fraternidade mística, a da fé e da vida.
Pelos caminhos da sua comunicação não se esqueceu de lembrar apalavra dirigida pelo Papa aos Bispos da Ásia, para que ninguém se agarre a si mesmo, mas aceite a diversidade, a diferença nas várias comunidades, evitando situações difíceis que dificultam a reconciliação, os caminhos de diálogo e fazem esquecer a nossa identidade de cristãos.
O tema da Nova Evangelização apareceu como o grande convite dos últimos Papas, mas também como a exigência de uma entrega generosa de todos nós na tarefa grandiosa que é um desafio à nossa capacidade de acção apostólica, num mundo onde a Igreja deve ser uma casa paterna e uma comunidade de misericórdia, de paciência e de equilíbrio, onde não falte o dinamismo da missionação nem a atenção aos pobres, nas novas situações e formas de pobreza. Que a Igreja consiga ser a «casa da esperança», onde o Espírito Santo leve a todos uma nova realidade, a de um povo que faça da palavra de Deus a força para um mundo melhor.
Uma proposta para os vinte e três participantes no Retiro de 2019? Seja antes um desafio para todos os que sonham e desejam um mundo melhor e uma Igreja mais dinâmica e presente nos lugares onde Deus parece faltar e onde pede a nossa presença missionária.
O obrigado ao Senhor D. Jacinto foi bem expresso pela salva de palmas tributada no fim das suas palavras; ele connosco, e nós com ele, podemos levar mais longe uma mensagem de esperança e de fraternidade.
Mons. Armando Ribeiro, in Voz de Lamego, ano 89/07, n.º 4493, 15 de janeiro de 2019