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Missa do Galo

BELÉM: CENTRAL LUMINOSA E TÉRMICA

 

1. Amados irmãos e irmãs, a quem Deus deu a graça de viver e celebrar a Luz, a Luz, a Luz desta Noite Santa de Natal. A Luz do Natal não é a luz natural, a luz solar, a luz do dia, que começa a vencer o escuro da noite, como sucede nesta época do solstício de inverno. A Luz do Natal é a Luz primeira e verdadeira, que alumia e aquece, chama e ama todo o homem que vem a este mundo, como grita bem alto São João no seu Evangelho (1,9). Alumia e aquece, chama e ama. Esta Luz nova e grande é Jesus. É Ele o gerador, o único gerador desta Luz grande, deste Lume novo, deste Amor imenso, que chama e ama, e que desde Belém se estende pela Terra inteira, e alumia e acende cada humano coração de Paz e Bem. A Luz e o Lume e o volume do Amor novo dessa Central Luminosa e Térmica expandem-se por invisíveis fios de altíssima e finíssima tensão que vão de artéria em artéria, de mão em mão, de coração a coração.

2. Minha irmã, meu irmão, não deixes gelar ou coalhar essa Luz, esse Lume, esse Amor, na tua mão, no teu coração. Podes morrer encandeado, eletrocutado. A vocação dessa Luz, desse Lume, desse Amor, é mesmo passar de mão em mão, de coração a coração, não para se esgotar e apagar, mas para se multiplicar. Vê, pois, com o olhar do coração, Maria, José, Isaías, os pastores dos campos de Belém! Todos receberam essa Luz e correram a levá-la, para que também tu pudesses Hoje recebê-la e amá-la e partilhá-la. Vai, pois, tu também, minha irmã, meu irmão, sem demora, pela noite fora, e reza e canta e acorda a aurora, para que Jesus possa nascer em cada coração agora.

3. Não havia lugar para eles naquela sala (katályma) adormecida, escurecida, anestesiada, esterilizada. Por isso, Jesus, a Luz, vai nascer no estábulo ali ao lado, que os animais gratuitamente acederam partilhar com Ele. Ali mesmo é acariciado, bafejado de ternura, e carinhosamente enfaixado e deposto na manjedoura (Lucas 2,12). Contemplai longamente o Presépio, queridos irmãos e irmãs. Mas contemplai já também a Cruz de Jesus. E vede bem também aquela sala adormecida e esterilizada, onde não há lugar nem para eles nem para nós (Lucas 2,7), e olhai já também em contraluz para aquela sala grande (katályma) da Ceia da Páscoa, onde há lugar só para eles e para nós (Lucas 22,11). Passai também o olhar por aquele Menino bafejado de carinho, cuidadosamente enfaixado e deposto na manjedoura. Mas vede ao mesmo tempo Jesus descido da Cruz, também carinhosamente enfaixado (cf. João 19,40), excessivamente perfumado com 32 quilos e oitocentos gramas de perfume (cf. João 19,39), e deposto na sepultura (cf. João 19,41). Tanta Páscoa no Natal. Tanto Natal na Páscoa. Mistério condensado de Luz e de Jesus.

4. Atenção, queridos irmãos e irmãs, porque só os pobres, com o olhar limpo e o coração puro, entram verdadeiramente neste quadro sublime do Natal de Jesus. Estão lá já Maria, José, o Menino, os animais e os pastores. Considerai bem os pastores! Eram os últimos da sociedade, descartados e desprezados, não praticantes de nenhuma religião oficial. Todavia, para espanto nosso, são eles que recebem do céu a Notícia, rejubilam, correm, rezam, cantam e entram no quadro daquele estábulo, no retábulo daquele Natal de Jesus. Têm direito a treze versículos na narrativa do Evangelho de Lucas! Em contraponto, os senhores do mundo – César Augusto, imperador romano, e Pôncio Quirino, prefeito romano da Síria –, não entram no quadro, ficam paralisados no caixilho, no caixilho histórico-geográfico, e são despachados com um único versículo cada um! Despachados. Sim, porque o Deus do Natal dispersa os soberbos, depõe os poderosos, despede os ricos, mas acolhe os pobres, exalta os humildes, sacia os famintos (Lucas 1,51-53), com o pão do céu que manifesta a doçura, literalmente a glicose (glykýtês) de Deus pelos seus filhos queridos (Sabedoria 16,21).

5. Perante tão intensa página de beleza como esta que Deus escreveu no Presépio de Belém, e escreve Hoje aqui também, não fica bem a ninguém entreter-se com nacos de amargura, críticas azedas, ou mesmo denúncias, ainda que proféticas. Mostremos antes bem alto esta beleza, porque não somos nós, é esta beleza que há de dissolver cada página de aspereza, o nevão da indiferença, da descrença e da doença deste tempo à deriva, com datas, mas sem estações e sem canções de embalar. Este é o tempo da surpresa de Deus, de confiarmos a outros o «serviço das mesas» (Atos 6,2), para nos dedicarmos à contemplação, à oração e à pregação deste Deus (Atos 6,4) que de surpresa nos visita com a riqueza da pobreza (2 Coríntios 8,9).


«Glória a Deus nas alturas
E paz na terra aos homens
Que Ele ama tanto»!

Foi este o canto
Que encheu de espanto
Os campos de Belém.

Miríades de anjos pelos ares,
Com seus cantares,
Deixaram os pastores extasiados,
Com meigos olhares
De encanto.

Como quem suavemente
Vê descer um manto branco
Sobre os rebanhos
Espalhados pelos campos.

Quando Deus,
Por invisíveis fios tecidos de lã pura,
Desce a este mundo sedento de ternura,
Tudo se atavia
Em avenidas floridas e rios de brancura,
Povoados de feno e de alegria.

Ninguém fica indiferente
Perante o sol nascente
Que desfaz o nevão
Do coração da gente,

Uma festa assim
Aconteceu em Belém
Há dois mil anos,
E pode acontecer hoje também,
Pois não há ninguém imune à alegria
De um Deus-que-Vem
E reúne os seus filhos
À volta do pão nosso de cada dia.

Vem, Senhor Jesus,
Fica connosco neste dia.



Lamego, Noite de Natal, 24-25 de dezembro de 2019

+ António, vosso bispo e irmão

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