Durante nove dias, o santuário de Nossa Senhora da Lapa promoveu a já secular novena de agosto, preparando a solenidade mariológica do dia 15 em que se recorda a Assunção de Nossa Senhora ao Céu.
Estes nove dias, marcados pelas restrições da Direção Geral de Saúde, de modo a evitar a propagação da Covid-19, não deixaram de proporcionar aos peregrinos de Nossa Senhora da Lapa uma experiência de encontro com Deus, partindo de uma reflexão que, este ano, teve como base a seguinte série de nove perguntas bíblicas: “Onde estás?” (Gn 3, 9); “Mulher que tem isso a haver contigo e comigo?” (Jo 2, 4); “Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?” (Jo 6, 5); “Mulher onde estão eles? Ninguém te condenou?” (Jo 8, 10); “Crês nisto?” (Jo 11, 26); “Compreendeis o que vos fiz?” (Jo 13, 13); “Mulher porque choras?” (Jo 20, 13); “Rapazes tendes alguma coisa para comer?” (Jo 21, 5); “Porque estás zangado e de rosto abatido?” (Gn 4, 6).
Partir de uma pergunta manifesta a predisposição para aceitar algo que desinstala e que coloca em atitude de procura. De facto, a vida do cristão deve seguir precisamente este desinstalamento numa permanente conversão, consolidando a identidade filial de cada um na relação eclesial com Deus Pai.
Respeitando cada um dos contextos, em que as perguntas surgem na Sagrada Escritura, o pregador procurou suscitar um peregrinar espiritual, associado ao peregrinar geográfico que cada fiel concretizava desde sua casa até ao santuário. Este peregrinar espiritual permitiria avançar para cada um ver o que ainda impedia uma transparente relação de proximidade com Deus, tendo como modelo a vida de Maria.
O esquema de novena foi também este ano alterado, tendo congregado todos os atos comunitários num único momento às dezasseis horas. Era, então, que os peregrinos recitavam comunitariamente o terço, celebravam a eucaristia e recebiam a bênção do Santíssimo Sacramento.
O dia quinze de agosto acordou envergonhado, realidade que ajudou à peregrinação. Quem caminha sabe quanto o calor dificulta a caminhada. Assim, no lugar das celebrações campais do santuário, iniciou-se a celebração da eucaristia pelas onze horas congregando, ainda que respeitando o distanciamento social, um grupo significativo de peregrinos.
Na homília o pregador partilhou uma reflexão onde teceu o convite para que todos continuem a peregrinar, meditando no exemplo de Maria que nos dá seu Filho na gruta de Belém, que acompanha o corpo morto do Filho até à gruta de Jerusalém, e que hoje convida a contemplar o Filho na gruta da Lapa.
A celebração contou ainda com a investidura de novos associados de Nossa Senhora da Lapa. Antes da bênção final, foi partilhado a toda a assembleia o convite a viver a esperança, com a convicção da existência de um sentido para a vida e que esta se vive sempre na companhia de Deus, pois Ele não desiste de ninguém.
Pe. Miguel Peixoto, in Voz de Lamego, ano 90/36, n.º 4571, 18 de agosto de 2020