Previous Next

Entrevista ao novo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lamego, Dr. António Carreira

António Pinto Carreira, natural de Queimadela, no concelho de Armamar, nasceu em 1958, fez a escola primária em Queimadela, frequentou o Seminário de Lamego, completando o primeiro ano de estudos teológicos, prosseguiu os estudos em Coimbra, regressou a Lamego, onde se encontra há cerca 40 anos.

Exerceu algumas funções em associações e intervenção pública, como presidente da Delegação da Ordem dos Advogados em Lamego, durante 15 anos; Diretor adjunto na Escola da Sé, durante alguns anos; professor na Escola Secundária que funcionava na atual sede da Misericórdia. Foi primeiro Presidente eleito da ASEL (Associação dos Antigos alunos dos seminários de Resende e Lamego). Foi Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lamego. É advogado e vereador da Câmara Municipal de Lamego. Tomou posse como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lamego, para o quadriénio 2021-2024, na passada sexta-feira, 8 de janeiro, para um mandato que desejamos profícuo em prol do bem comum e daqueles que serve diretamente.

Voz de Lamego (VL) – Como é que chegou aqui, a candidato e a Provedor?

Faço parte da mesa administrativa há sete anos. A Santa Casa não é uma novidade para mim. Conheço a Santa Casa pelo seu funcionamento, pelas valências, pelas pessoas, pelos problemas e dificuldades. Mas depois sou confrontado com um desafio, que é dizerem-me, entendemos nós que, neste momento, quem tem condições para exercer o cargo de Provedor é o Senhor. Na altura a pessoa tem pensar. Pensa em muitas coisas e uma das primeiras imagens que me veio à mente foi aquilo que D. António Francisco disse uma vez e que era o lema de vida dele: “os pobres não podem esperar”. Eu tinha uma grande e forte ligação a D. António. Para mim era um guia e um farol e um exemplo que eu não conseguia, nem consigo seguir. Era uma relação de grande proximidade e até de cumplicidade.
Acho que nós nos realizamos quando somos capazes de fazer aos outros aquilo queremos que nos façam a nós. Acho que chegou a altura de eu também fazer isso. Aquele mandamento há tanto tempo formulado ainda está por cumprir: amai-vos uns aos outros, dar a vida pelo irmão. Temos a obrigação de o cumprir. O nosso papel na sociedade não é ficar só à espera, não é meter-nos no nosso canto. Eu até estou reformado, podia perfeitamente calçar umas pantufas e ficar em casa… mas não. Entendi que ainda não era o momento, tenho obrigações para com a sociedade, para com a cidade, onde estou, temos este dever moral de estar ao serviço dos outros.

VL – O que é que o move a um cargo tão relevante na cidade e no concelho de Lamego?

Não me move nenhum tipo de interesse pessoal, do ponto de vista pessoal, eu creio que cumpri e fiz a minha vida orientada por valores e princípios. Eu sempre tive em mim este princípio de servir os outros e dar também de mim aos outros, isto é que dá sentido à vida. Se não encontramos sentido para vida ao serviço dos outros não estamos cá a fazer nada. É importante que as pessoas olhem para nós e digam “valeu a pena conhecê-lo e valeu a pena porque deixou alguma coisa”. Essa é a minha ideia e a principal razão da minha apresentação como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lamego.
Isto não é nenhuma honraria, mas não deixa de ser uma honra podermos desempenhar este cargo e saber que o podemos desempenhar ao serviço dos outros, sobretudo dos mais pobres e dos mais desprotegidos. Aliás há outra razão. Por certo, terão ideia da homilia do nosso Bispo, D. António, na tomada de posse, e ele disse qualquer coisa como: “Eu quero ver o vosso rosto”. E o querer ver o rosto significa este conceito de proximidade, este conceito de fraternidade e de aproximação ao outro. Nós sabemos que os problemas existem, nós sabemos que a fome existe, sabemos que há miséria no mundo, mas não conhecemos o rosto das pessoas que sofrem, o rosto das pessoas que passam fome, não conhecemos as pessoas que estão doentes. E não conhecendo o rosto, parece que aquilo não é connosco. Temos esse desafio do Sr. Bispo: conhecer o rosto das pessoas. É essa ideia que me fez aceitar esta função.

VL – A Santa Casa já lidou com um surto. Como foi lidar com o surto de covid 19. Que balanço faz?

O que eu sei, embora nessa altura não fosse o Provedor, fazia parte da mesa administrativa, houve um surto sem consequências graves, a epidemia foi controlada e neste momento a Santa Casa está preparada, fez investimento significativos, quer na formação, quer nos equipamentos de proteção coletiva e individual dos funcionários, dos colaboradores. Fez investimentos de algumas dezenas de milhares de euros. Tivemos despesas acrescidas. Neste momento, hoje, não temos nenhum caso positivo. Aproveito para dizer que essa é a minha preocupação neste momento, como Provedor, o controlo da pandemia, o bem-estar dos nossos utentes, mais importante que saber se um trabalhador está bem disposto, ou se há um pagamento a fazer ou um salário para pagar, ou o controlo financeiro da instituição, mais importante do que isso, é o bem-estar dos utentes. Todos os dias penso nisso, e agora com mais responsabilidade.

VL – De que forma a pandemia alterou as responsabilidades, compromissos e projetos da Santa Casa? Claro que ainda está a começar, como Provedor, mas acompanha a vida da instituição há muito tempo, sobretudo desde que ponderou uma candidatura…

A minha grande preocupação, para além de que lhe falei do controlo da pandemia e o bem-estar dos nossos utentes, é a situação financeira da Santa Casa. Normalmente as pessoas tem ideia que as santas casas são ricas, e alguns têm a ideia errada que as santas casas recebem dinheiro dos jogos da Santa Casa, não recebem dinheiro nenhum, só recebe a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Não temos nenhuma comparticipação nem nenhum subsídio de ninguém. O Estado tem protocolos de colaboração com as santas casas e paga os serviços que a Santa Casa executa. Para além disso, tem rendimentos próprios, tem uma quinta que tem um rendimento razoável, que terá entre 50 a 60 mil euros de rendimento líquido por ano, mas isso é uma gota no oceano. O nosso orçamento andará por 2 milhões e 300 mil euros por ano, com despesas e, obviamente, receitas também temos que as obter. No tempo em que os capitais no banco tinham juros elevados, a Santa Casa da Misericórdia de Lamego poderia fazer face às despesas com os juros. Neste momento não é um rendimento. A Santa Casa tem património mas não gera um rendimento elevado a não ser as rendas das casas que tem arrendadas. Uma das preocupações que vou ter: nenhuma despesa, na Santa Casa, será paga sem que tenha sido autorizada por mim, por escrito. Isso significa que estou preocupado, como é evidente, mas que quereria deixar a Santa Casa, numa situação, senão melhor, pelo menos igual à que está, ou seja, apresentar um superavit quando terminar o meu mandato. É o meu desejo.

VL – A vida da Misericórdia já existia antes da pandemia e vai prosseguir a sua missão depois da pandemia. Quais os grandes desafios para os próximos anos?

O maior desafio e que gostaria mesmo era de dar utilidade às instalações do Hospital de Lamego ou dar rentabilidade, mesmo que passasse por alguma parceria com uma entidade privada que estivesse na disposição de aproveitar aquele equipamento. A Santa Casa já fez investimentos que era necessário fazer e que durante décadas não foram feitos, construiu um Lar novo, com rendimentos exclusivos da Santa Casa. A minha função, os meus projetos, digo sem nenhum problema, serão sobretudo projetos de continuidade, não vou assumir nenhuma posição de rutura com a anterior administração da Santa Casa, até porque estaria a dizer mal de mim próprio, não sendo Provedor, integrei a administração; não há nenhuma rutura, há sim continuidade, e acho que é essa continuidade que importa fazer, continuar a dar visibilidade à Santa Casa, que não teve noutros tempos. A Santa Casa hoje é uma referência a nível das instituições de solidariedade social, é um parceiro importante… em termos de empregabilidade há muitas famílias que dependem da Santa Casa, não são apenas os utentes, são também os trabalhadores.


VL – Debrucemo-nos então sobre o edifício do Antigo Hospital. Em que ponto se encontra o projeto de adaptação e renovação do espaço para acolher serviços de Saúde? Já agora, quais os serviços que serão aí prestados? Tendo em conta a pandemia, é possível avançar com a execução do projeto ou adiar por algum tempo?

Neste momento estão em curso obras de adaptação no espaço a que chamavam “o pavilhão” para a construção de uma clínica de hemodiálise, um contrato de arrendamento feito com uma unidade de saúde da área; as obras estão a decorrer e devem ficar prontas em setembro deste ano. Provavelmente este ano vamos ter uma clínica de hemodiálise a funcionar em Lamego nas instalações do Hospital. A nossa ideia é que aquela valência sirva como âncora para outras atividades que poderiam passar por uma residencial sénior, para pessoas com rendimentos mais elevados… aproveitar o espaço. A vocação da Santa Casa não é obter lucros com a sua atividade, mas gerar rendimentos que depois sejam utilizados com aqueles que mais precisam. Se pudéssemos obter daí para os que mais precisam seria ótimo. Ou então uma Unidade de Cuidados Continuados, sabendo que não existe em Lamego, mas não é um investimento fácil nem de fácil sustentabilidade. Já tivemos um projeto, aqui há três anos, de transformação total do edifício, mas era um investimento na ordem dos 5 milhões de euros, e a Santa Casa não tinha condições para isso, de forma nenhuma. As pessoas que lá estão, que vão explorar parte do hospital, merecem-nos toda a credibilidade e, como dissemos antes, poderão ser âncora para outros projetos.

VL – Do mandato anterior, uma das preocupações expressas era o equilíbrio das contas. Porém, a pandemia trouxe custos acrescidos. Será possível o tal equilíbrio desejado, já em 2021, ou será cedo para prever as consequências da pandemia e o seu reflexo nas contas da instituição?

Eu acredito que em 2024 atingiremos o equilíbrio das contas da Santa Casa, porque também acredito que o ano mau vai ser o ano de 2021, por todas as razões que conhecemos e, sobretudo, por aquelas que se prendem a pandemia, que está longe de ser controlada, ontem (6 de janeiro) os números foram assustadores, ultrapassaram 10 mil (de pessoas infetadas), pela primeira vez. A verdade é que neste momento não temos razões para deixar de estar preocupados. Acredito que em 2024, será o fim do meu mandado, as contas estarão equilibradas. É esse meu compromisso: deixar as contas melhor do que as encontrei. Não é que as contas estejam mal, neste momento, não é que as pessoas que estavam cá, nomeadamente o Sr. Provedor, tenham sido descuidados ou desleixados ou gastado mais do que deveriam, o que se gastou foi o que tinha de se gastar. Houve despesas que foram feitas que tinham de ser feitas, melhoraram-se as condições de trabalho dos funcionários. Há coisas que não nos podemos esquecer, uma obra como o Lar, contruído de novo, de raiz, a reformulação do Edifício da Santa Casa, sem comparticipações, mais, a legalização dos edifícios da Santa Casa que ainda estava por fazer.

VL – A propósito do Lar, porquê em Arneirós?

Porque a quinta era lá. Foi lá que começou. Temos lá uma capela lindíssima…

VL – São várias as valências da Misericórdia… quais as que precisam de mais atenção?

Temos o Lar de Idosos com 69 utentes; o Jardim de Infância ou Creche; o serviço de apoio domiciliário; o centro de acolhimento temporário, o CAT, que é acolhimento temporário de crianças, mas onde por vezes permanecem por mais de um ano; a quinta de Lobrigos, em Santa Marta de Penaguião; e, na outra quinta, a de Medelo, temos o Lar das Meninas, aquelas jovens que são retiradas aos pais e depois são institucionalizadas, temos cerca de trinta meninas, de várias zonas do país.
As que me absorvem mais atenção, todas as que têm que ver com as necessidades dos mais desfavorecidos, são as que me preocupam mais; não me preocupa tanto a valência dos serviços administrativos; a quinta também não é algo que me preocupe muito, porque tem os trabalhadores, tem os seus rendimentos…

VL – A vertente cultural da Santa Casa também tem estado presente ao longo dos anos. É para manter este compromisso ou poder-se-á aprofundar ainda mais?

É para manter… é para alargar, se possível, não deixando nunca de dizer que gostaria que a Santa Casa fosse uma referência cultural na cidade, em parceria com outras instituições, nomeadamente com a Câmara Municipal e com a Diocese. Não queremos tirar o lugar a ninguém, não vamos transformar a Santa Casa numa instituição de cariz cultural e tirar o lugar a outras instituições que têm essa obrigação. Mas temos de abrir a Misericórdia às pessoas e essa parte cultural é importante. Temos um museu que queremos dá-lo a conhecer, um museu com peças importantes, um espólio importante; temos também a colaboração nos concertos na Igreja das Chagas, que é o nosso ex-libris, em termos de projeção de património. A nossa ideia, na medida das nossas capacidades é aprofundar essa vertente.

VL – A Santa Casa da Misericórdia de Lamego completou há pouco tempo 500 anos de existência em Lamego. É uma herança histórica, imensa. Que traços do passado é necessário preservar ou renovar?

Olhe, diz o Cardeal Tolentino Mendonça que a vida sem misericórdia não tem sentido, mas também que a misericórdia custa. Não falo, neste momento, tanto na misericórdia divina, mas no sentido de eu me pôr no lugar do outro e eu acho que essa foi a razão de ser para a criação das misericórdias; misericórdias existem por causa daqueles que precisam, dos desprotegidos, e foram 500 anos. E 500 anos, é sinal que isto é uma estrutura muito forte e sólida, sobreviveu a coisas terríveis, sobreviveu ao período filipino, em 1580 já existia; Camões morreu, mas a Santa Casa da Misericórdia de Lamego existia e manteve-se; sobreviveu às guerras liberais; sobreviveu à República, a todos os períodos conturbados da monarquia; sobreviveu ao período do fascismo, em Portugal, ao período revolucionário. No período revolucionário, muita gente pensou que eram instituições com ideologias que nada tinham a ver com a solidariedade… a solidariedade não é um valor de nenhum partido, é um valor das pessoas, as pessoas são solidárias, são fraternas, são preocupadas, independentemente das suas opções político-partidárias e ideológicas. Eu tenho a responsabilidade de estar à frente de uma instituição que tem 500 anos e de a deixar para outros que a irão perpetuar por muito mais de 500 anos. Nós iremos e a obra fica.

VL – A Misericórdia de Lamego é das mais antigas do país…

É das mais antigas, de 1519, fará este ano 522 anos…
Tolentino Mendonça dizia: não há vida sem misericórdia. Diz ele no livro “Uma beleza que nos pertence”, a misericórdia é uma das coisas mais exigentes e comprometedoras. Acho que a misericórdia não é tanto pela Bem-aventurança “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”, mas no sentido de ajudar o outro, ir ao encontro do outro, pôr-me no lugar no outro. Então, espero que um dia, mesmo sem ser o julgamento final, que São Mateus refere, olhe para a minha consciência e diga: eu, afinal, estou de bem comigo, porque fiz o que tinha que fazer em prol dos outros, sinto-me bem, cheguei ao fim do dia, cheguei ao fim do mandato, fiz aquilo que achei que devia fazer, sem estar à espera do julgamento final… mas importa que seja fiel à minha consciência.

VL – Qual o perfil de um Provedor para os tempos atuais? E, neste sentido, que características o aproxima do anterior Provedor, o Dr. Marques Luís, e o que os diferencia, em seu entender?

Um provedor tem de ser uma pessoa dedicada, empenhada e preocupada com o outro. Em relação ao Dr. Marques Luís, que desempenhou o cargo também em tempos difíceis, deu visibilidade a esta Santa Casa, que ela não tinha, pôs Santa Casa no lugar que merece, deixou uma marca indelével na imagem da Santa Casa. Não é este o momento para me referir ao trabalho feito pelo Dr. Marques Luís, Provedor, mas esse momento há de chegar. Em relação às diferenças, sobretudo na maneira de ser, de nos relacionarmos, são estilos diferentes, mas sem que umas sejam boas e outras más, são diferentes.

VL – O propósito das misericórdias, ao tempo da Rainha D. Leonor, foi o cuidado dos mais desprotegidos, pobres e indigentes. O ideal que serviu de base foram as Obras de Misericórdia (sobretudo) corporais. Atualmente ainda existe espaço para estas obras de misericórdia? A exigência de uma gestão profissional e rigorosa, e escrutinada por entidades oficiais, ainda permite a espontaneidade para a caridade?

Creio, senhor padre, que há uma limitação, eu concordo com essa tese, mas eu acho que há sempre espaço, nem que se seja nós próprios, pode não ser a instituição, podemos ser só nós próprios e por isso eu vou dizer que uma das minhas ideias, em relação aos próximos quatro anos é trazer as pessoas de Lamego, do concelho e da cidade, para a Santa Casa, convidá-las a participar, a entrar, porque há muita gente boa em Lamego, há gente que tem muitas qualidades, gente bem formada, de princípios, de ética irrepreensível… Vou fazer os possíveis para ter cá essa gente, e essas pessoas podem fazer o mesmo uns pelos outros e é nesse sentido que eu acho que podemos ultrapassar as dificuldades que advém, muitas vezes, das sindicâncias e dos controlos externos à Santa Casa. As pessoas podem ter essa função, também de uma forma voluntária e eu quero aumentar o número de irmãos da Santa Casa. Neste momento ronda os 400, mas só 200 e tal é que têm tido uma participação mais ativa, e quero também pôr em funcionamento um órgão, que está estatutariamente previsto, mas ainda não está em funcionamento, que é o conselho consultivo, que será um conjunto de personalidades da região, e não só, que terão como missão aconselhar e informar a Mesa e o Provedor para aquilo que importa fazer ou darem a sua opinião sobre projetos.

VL – Neste tempo de pandemia têm vindo a surgir mais pobres, pessoas desamparadas pela perda do emprego e de condições para fazer face a prestações e/ou pagamentos a que se tinham comprometido. Tem sentido estas dificuldades?

Receio muito por este ano de 2021, porque não vai ser só um problema sanitário… mas do ponto de vista económico, vamos ter um ano terrível, vai haver aumento do desemprego, vai haver gente sem condições de pagar a renda, vai haver gente que vai começar a não ter dinheiro para pagar o mínimo dos mínimos e isso vai trazer problemas sérios.

VL – No concreto da Santa Casa da Misericórdia, nomeadamente no que diz respeito a mensalidades, seja nos Lares, seja nas atividades para as crianças, tem sentido algum constrangimento? Pedidos de redução ou adiamento de pagamentos?

As pessoas estão a cumprir aquilo que contrataram, nós temos os contratos, as parcerias com a Segurança Social e depois as pessoas que também precisam dos serviços da Santa Casa e deles carecem, não tenho tido conhecimento que tenha havido problemas, mas não quer dizer que não venha a haver.

VL – Se tivesse de escolher uma palavra, um slogan, um lema, para o seu mandato agora iniciado, qual seria?

Uma pessoa preocupada com os outros. Ou melhor, “com os outros” pode ser genérico, com os que sofrem. Este momento é gratificante, é a forma de eu também, não gosto muito da expressão, a forma de eu pagar aquilo que devo aos outros, o que os outros fizeram por mim aquilo que eu ainda não paguei e acho que está na altura também de eu o fazer.

VL – “Assim como a doença é a maior miséria, assim a maior miséria da doença é a solidão”. É uma expressão de John Donne, poeta irlandês do séc. XVI, que sita numa das suas partilhas. Que comentários lhe sugere?

Olhe, sabe esse poeta irlandês, John Donne, é um poeta que me diz muito, porque um homem, no séc. XVI, que pensa isto, é um homem muito à frente do tempo. Neste momento, a doença, num tempo de pandemia, ainda é muito mais preocupante, as pessoas estão doentes, eu tenho conhecimento de casos absolutamente aterradoras de pessoas, de partir o coração, como se costuma dizer, de casais que entraram na urgência com a COVID, um vai para um lado, outro vai para outro e nunca mais se veem. Ora, e morreram porque nunca mais se viram, e ficaram sozinhos, portanto pior que a doença, pior que a doença num hospital é a solidão da doença. A solidão da doença creio que é o que mais custa e o que mais dói. É um poeta que me diz muito…

VL – E já agora, que livro anda a ler.

Neste momento estou a ler o “Mussolini, o Filho do Século”. Tenho o defeito de, às vezes, ler dois ou três ao mesmo tempo. Ontem, por acaso, peguei na biografia do Marquês do Pombal que me ofereceram no Natal… Este meu gosto pela música e pela leitura vem do tempo em que frequente o Seminário…

VL – Uma palavra para os utentes e colaboradores da Santa Casa, para as instituições com as quais interage e para os nossos leitores.

Conto com todos os colaboradores da Santa Casa, com empenho e lealdade. Da minha parte contarão com o máximo de rigor e com o máximo de lealdade para com eles, mas também a exigência que o cargo impõe e as funções que desempenho. Nós, dirigentes, sem os funcionários, sem os colaboradores, não somos nada, eles são a peça principal da Santa Casa. A Santa Casa só funciona porque eles existem, não é porque existem os diretores. É com eles que quero contar para levar a bom porto este trabalho.
Em relação aos leitores da Voz de Lamego, que são muitos, o que podem exigir de mim, todas as pessoas podem exigir de mim, é seriedade naquilo que faço, dedicação, e podem exigir também outra coisa, aquilo que faço, cometerei erros, com certeza, mas aquilo que faço é sempre imbuído deste espírito de me dedicar aos outros, e sobretudo aqueles que são mais desprotegidos, mais desfavorecidos. Espero que todos nós tenhamos um ano de 2021 que nos faça esquecer 2020, não será fácil, mas confiamos que dias melhores virão.

Muito obrigado, Dr. António Carreira, e que o mandato seja bem-sucedido, na certeza que o sucesso do Provedor será o bem das pessoas que a Santa Casa serve na cidade e no concelho de Lamego. Muito obrigado e que Deus lhe dê a sabedoria do coração, o discernimento, para que as opções assumidas beneficiem o maior número de pessoas, com alegria e diligência.

 

in Voz de Lamego, ano 91/09, n.º 4591, 12 de janeiro de 2020

A acontecer...

Seg. Ter. Qua. Qui. Sex. Sáb. Dom.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Pesquisar

Redes Sociais

Fale Connosco

  254 612 147

  curia@diocese-lamego.pt

  Rua das Cortes nº2, 5100-132 Lamego.

Contacte-nos

Rua das Cortes, n2, 5100-132 Lamego

 254 612 147

 curia@diocese-lamego.pt

 254 612 147