Mensagem do Conselho Permanente da CEP
1. A celebração anual da Páscoa do Senhor é o dia por excelência da passagem à vida nova, a festa das festas cristãs. Por isso, o grito da Igreja que nasceu da Páscoa está inundado pela admiração, exultação e alegria: «este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria» (Salmo 117).
O encontro com o Ressuscitado transfigura o coração e é a razão para acolher o precioso dom e o compromisso da fraternidade e do cuidado integral. Infelizmente, pelo segundo ano consecutivo, o anúncio pascal chega em tempo de crise pandémica, que desterra a paz e a felicidade. Da Quaresma à Páscoa é uma grande peregrinação de Esperança.
Todavia, como interpela o Papa Francisco: «Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados. Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias» (Evangelii Gaudium 6).
2. Apesar desta situação dolorosa, não deixemos que se extinga a esperança da Páscoa! Sem ela a vida torna-se árida, insuportável, sem sentido. Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança viva. «A sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. (…) Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. (…) Esta é a força da ressurreição» (EG 276) que trespassa a nossa vida e a nossa história. Não fiquemos à margem desta esperança viva! Peçamos ao Espírito Santo que «vem em auxílio da nossa fraqueza» (Romanos 8, 26) para fazer brotar em cada um sementes de vida nova.
3. Nas casas e nas famílias, a mesa é o lugar da partilha do pão e do dom da comunhão. A mesa continua a ser o lugar do dom da Páscoa: mesa da Palavra, mesa da Eucaristia e mesa da caridade fraterna. Aqui acontece o milagre da fraternidade cristã. A mesa com Cristo leva-nos à missão e à proximidade com quantos são atingidos pela pandemia e sofrem nos lares, nos hospitais e nas instituições, pedindo a bênção de Deus e a recuperação da saúde e da esperança. Continuamos a partilhar, igualmente, a dor das famílias que perderam os seus entes queridos, confiando-os aos braços misericordiosos do Ressuscitado, assim como a angústia dos que perderam ou viram substancialmente reduzidos os seus rendimentos necessários a uma vida condigna.
4. Renovamos a nossa gratidão pela heroicidade e dedicação à dignidade da vida humana: aos profissionais de saúde e de segurança, aos voluntários e a todas pessoas que fazem avançar a história da humanidade nos serviços essenciais e quotidianos ao bem comum.
É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus Cristo vivo, a transformar e a renovar o mundo.
5. O mundo inteiro prepara-se para sair desta pandemia que nunca ninguém pensou que pudesse ter tantas e tão graves consequências para a humanidade. Devemos entender a crise como um desafio à coragem criativa e à confiança crente. Desta crise temos de sair melhores. A todos os irmãos e irmãs, especialmente aos presbíteros, aos diáconos, às pessoas consagradas e às famílias cristãs, encorajamos a renovar as promessas batismais para prosseguirem nos caminhos da reconciliação e da conversão.
6. O sepulcro aberto proclama a alegria da presença viva e ressuscitada de Cristo e a Igreja pede-Lhe incessantemente: «Fica connosco, Senhor» (Lucas 24,29), para que seja sempre hoje de renovação pascal. Para todos existe a possibilidade de reencontrar a esperança, porque Cristo é a nossa Páscoa (cf. 1Coríntios 5,7) e a nossa paz. A fé, a esperança e a caridade que nascem e renascem da Páscoa frutificam, quando nos tornam mais irmãos e cidadãos mais ativos para se realizar a justiça e a paz, o perdão e o amor.
Lisboa, 11 de março de 2021