Entrevista da Voz de Lamego com D. Américo Manuel Alves Aguiar

Daqui a dois anos, no verão de 2023, realizar-se-ão, em Lisboa, as Jornadas Mundiais da Juventude. A preparação já está no terreno. Coordena a realização da JMJ, D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar de Lisboa e que tem procurado envolver todas as dioceses, para que através destas, todos os jovens sejam mobilizados.
Esta semana, a Voz de Lamego disponibiliza entrevista com D. Américo, sobre o caminho percorrido e pelo muito que há a fazer para a acolher a JMJ, com as expectativas inerentes e com os frutos que se esperam do maior encontro de jovens ao nível mundial.
D. Américo nasceu a 12 de dezembro de 1973, em Leça do Balio, Matosinhos; foi ordenado sacerdote a 8 de julho de 2001 e Bispo a 31 de março de 2019. Foi Vigário Geral da Diocese do Porto, ao tempo de D. António Francisco dos Santos, falecido em 2017. É Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa e o coordenador da comissão organizadora das Jornadas Mundiais da Juventude que se realizarão em Lisboa, no verão de 2023. É também presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia. Tem formação superior em Teologia (licenciatura) e em Ciências da Comunicação (mestrado).

Voz de Lamego – Foi eleito e ordenado Bispo com o propósito imediato de levar por diante a organização da Jornada Mundial da Juventude, convocada pelo Papa Francisco para 2022, mas que, entretanto, será no verão de 2023, por causa da pandemia. Como encara essa missão?

Não sei se essa sequência causa-efeito aconteceu como diz… Mas voltemos atrás um pouco no calendário. Sempre tive muito respeito e carinho para com Lamego. Tinha e tenho alguns amigos eclesiásticos e leigos mas tudo mudou para algo mais profundo com o pontificado no Porto, do nosso querido e muito saudoso D. António Francisco dos Santos. O que lhe ouvi, o que testemunhei… Lamego é sem dúvida uma terra e um povo especialmente abençoado. Que ele interceda por nós, por Lamego, por Portugal e pela JMJ LISBOA 2023 de modo especial.
Voltemos então a 2019. Vamos à missão da organização da JMJ. Tem sido um caminho com os percalços que todos conhecemos. Se fosse fácil não seria para nós. Como tenho dito e repetido, o importante da JMJ não é aquela semana do verão de 2023. O que é verdadeiramente importante é o que fizermos até lá. Eu, o meu grupo, a minha paróquia, a minha Vigararia, a minha diocese, as dioceses do mundo inteiro, todos e cada um. A preparação e organização da JMJ é uma oportunidade de ouro a não desperdiçar. Temos de assumir “o sonho missionário de chegar a todos” a que o Papa Francisco nos exorta, desde os que estão em minha casa aos que estão no destino mais longínquo que possamos imaginar. Chegar a todos. Para isso é preciso que nos levantemos, e partamos apressadamente, mas sem ansiedade.
Não é uma missão para uma única pessoa, muito menos para mim. É uma missão para Portugal inteiro. E quando atingirmos os limites do humanamente possível… aí Deus providencia.
 
VL - Em 2010, foi o rosto visível da comissão responsável por acolher Bento XVI na visita à cidade do Porto. Que avaliação faz dessa visita e de que forma lhe fornece, agora, ferramentas para a Jornada Mundial da Juventude?

É uma data de muita saudosa memória. Nunca será demasiado agradecer à equipa que tanto trabalhou… até aos limites. O núcleo mais restrito era constituído pela Florbela, pela Emília, pelo Leitão e pelo Audemaro…e muitíssimos outros, oriundos da Diocese e da Câmara Municipal do Porto. Como já disse, quando esgotamos todas as nossas forças sentimos verdadeiramente que Deus completa, providencia, supre… e assim foi. O balanço, volvida uma década, foi muitíssimo positivo. Aliás esta visita papal marcou o pontificado do Papa Bento XVI, no que à perceção mediática do pontífice dizia respeito.
Esta experiência ajuda-me e muito na organização da JMJ, principalmente no entender positivo da relação com as equipas da Santa Sé que nos acompanham permanentemente. Já testemunhámos que estão para nos ajudar a que tudo corra bem. A experiência acumulada de outras JMJ e de outros tantos eventos pelo mundo fora dá-lhes um conhecimento que já está ser indispensável para a JMJ LISBOA 2023. Acolhê-los como irmãos é uma mais-valia. Estamos juntos. Todos queremos que tudo corra bem… o que faz toda a diferença.

VL – De forma resumida, o que é uma Jornada Mundial da Juventude?

A Jornada Mundial da Juventude é, antes de mais, uma graça para o País que a organiza. É uma oportunidade, por excelência, para renovar a pastoral juvenil e exprime o desejo que a Igreja tem de caminhar com os jovens. Começa logo no momento em que se anuncia a próxima cidade-sede da JMJ, no caminho de preparação que se faz até ao grande encontro dos jovens com o Papa, e naturalmente adquire uma visibilidade e expressão maiores na semana propriamente da jornada. Nessa altura, milhares de jovens do mundo inteiro juntam-se para um grande encontro com o Papa. São dias para redescobrir Jesus, a Igreja e os outros, dias que transformam a vida de todos e cada um e que convidam os jovens à missão.  Acima de tudo, a Jornada pretende proporcionar a cada jovem um encontro pessoal com Cristo Vivo.

VL – No Panamá, o Papa Francisco anunciou Lisboa como destino da próxima Jornada Mundial da Juventude. Quando soube que seria no nosso país, o que sentiu?

Desde o primeiro momento, acolhi esta notícia com enorme alegria e espírito de serviço. É uma honra para Portugal receber e organizar a Jornada Mundial da Juventude.

VL – Já participou em várias Jornadas Mundiais. De cada uma, teve a oportunidade, já o referiu em algumas entrevistas, de viver experiências diferentes. Em que será diferente uma JMJ organizada por Portugal e em Portugal?

Participei nas jornadas de Sidney, Cracóvia e Panamá. Cada Jornada Mundial da Juventude é única e a nossa também o será certamente. Desde logo, a JMJ Lisboa 2023 estará marcada pela espiritualidade mariana. Enquanto povo temos uma relação muito especial com a Mãe, e como sabemos, o Papa Francisco escolheu para esta JMJ um tema centrado na figura de Nossa Senhora (“Maria levantou-se e partiu apressadamente”). Será também certamente uma JMJ marcada pelo acolhimento caloroso que é tão característico dos portugueses.  

VL – Ao nível da preparação… quais os passos dados até aqui?

A preparação de uma Jornada implica uma extraordinária capacidade de organização e a criação de uma rede de contactos, parcerias e voluntários. É o que temos procurado fazer, sabendo que é um trabalho que só estará terminado depois da Jornada terminar! Estamos a trabalhar nessa rede de contactos e parcerias institucionais e privadas, já temos cerca de 1000 voluntários espalhados por todo o país, entre o Comité Organizador Local e os Comités Diocesanos. Todas as semanas procuramos melhorar a organização que já está estruturada.

VL – Um dos momentos significativas neste itinerário para a JMJ 2023 foi a entrega dos símbolos da Jornadas Mundiais, no Vaticano, diante do Papa. Jovens do Panamá confiaram-nos, em nome do Papa, aos jovens portugueses. Que significam estes símbolos e como chegarão às dioceses portuguesas?

Os símbolos têm uma dimensão histórica. A cruz já acompanhou todas as Jornadas e o ícone de Nossa Senhora, apesar de ter chegado mais tarde, em 2000, na Jornada do Jubileu em Roma, marca a presença de Nossa Senhora junto dos jovens. A linguagem simbólica acompanha a vida da Fé e estes dois símbolos conseguem ser um elemento de unidade das Jornadas, cruzando o tempo e a geografia do mundo. Os símbolos irão percorrer todas as dioceses portuguesas, num itinerário previamente traçado.

VL – Como é que se prepara uma Jornada Mundial, sabendo que envolve milhares de pessoas, milhões de jovens, entidades diversas?

Prepara-se com confiança e esperança. Prepara-se sabendo que é algo muito maior do que nós, algo que nunca aconteceu em Portugal e que dificilmente se repetirá. Prepara-se em comunhão fraterna, com a ajuda de todos. Prepara-se com uma enorme dose de humildade e espírito de serviço. Prepara-se com voluntários e com profissionais, com jovens e menos jovens, com padres, com leigos, com consagrados e consagradas. Prepara-se com o espírito de acolhimento, e a capacidade de resolver problemas que são uma marca da nossa identidade. Prepara-se aprendendo com os nossos antecessores nesta aventura, os panamenhos, que tanto nos ensinam. Prepara-se com alegria e com Fé. Prepara-se com o empenho e a dedicação de todos os lamecenses.

VL – Qual o envolvimento da Diocese de Lamego neste caminho preparatório? O que se espera de nós no Verão de 2023?
O envolvimento da Diocese de Lamego está a ser exemplar!  Aliás, as dioceses, através dos Comités Organizadores Diocesanos (COD), dos Comités Organizadores Vicariais (COV) e dos Comités Organizadores Paroquiais (COP), estão a envolver-se de forma surpreendente na preparação da JMJLisboa2023 e do modo mais acertado: fazem acontecer o espírito da JMJ, desde já, em cada território, em cada geografia da nossa Igreja em Portugal. De facto, o caminho está a ser feito de uma forma envolvente, por todos!
Lamego está nesta caminhada, com a dinamização que é proposta pelos jovens da equipa do COD e pelo padre Luís Rafael Azevedo, participando de forma ativa nas iniciativas de preparação que queremos construir em conjunto e concretizando-as nos diferentes locais da Diocese. Em 2023 o que esperamos de Lamego? “Só” uma coisa: que participem todos os jovens do território da diocese na JMJLisboa2023! E vão ver que vai valer a pena!

VL – Como é que se faz para que a mensagem da JMJ chegue aos 1.873.000 jovens portugueses? É possível chegar a todos? Como?

O ideal é que cada um faça a sua parte. Ou seja: se Lamego conseguir que os jovens da sua região participem, assim como todas as dioceses, vamos conseguir! Estamos empenhados nesse objetivo não para termos muita gente na JMJLisboa2023, mas porque achamos que a experiência é talvez a melhor que um jovem pode fazer na sua vida.
Para chegar a todos precisamos do contributo de todos. A organização da JMJLisboa2023 não é uma estrutura que esteja a trabalhar a partir de um escritório, mas deseja estar no terreno das 21 dioceses a fazer caminho em conjunto, a dialogar, a partilhar ideias, projetos. E assim acreditamos que conseguiremos.
Depois, temos de ter em cada local a mesma atitude para com todos os jovens. Ou seja: sair das nossas zonas de conforto e ir ao encontro de todos os contextos, sociais e culturais, escolares e desportivos e todos aqueles onde estão os jovens para lhes fazer esta grande proposta. Como nos exorta o Papa Francisco, levantemo-nos apressadamente, sem ansiedade, ao encontro de todas as periferias geográficas e existenciais.  

VL – Que expectativas e que desafios para os jovens e para a Igreja? E que frutos são expectáveis?

Refere-se com frequência que a JMJ é uma oportunidade para renovar a Pastoral Juvenil do país que acolhe, para rejuvenescer a Igreja, para dar mais protagonismo aos jovens. Creio que tudo isso vai acontecer se conseguirmos todos seguir cada vez mais fielmente Jesus ressuscitado. O Papa Francisco tem aberto todos os caminhos para que isto aconteça, nomeadamente com a carta que dirigiu aos jovens “Christus Vivit” onde deixa todas as coordenadas para que cada jovem seja mais feliz, o cuidado da casa comum seja uma prioridade com consequências palpáveis e a Igreja seja cada vez mais acolhedora. Estes serão, por certo, alguns dos frutos da JMJLisboa2023 que mais nos animam!

in Voz de Lamego, ano 91/25, n.º 4607, 4 de maio de 2021

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