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SOLENIDADE DE SÃO SEBASTIÃO

1. Neste dia dedicado a São Sebastião, Padroeiro principal da nossa Diocese, quero saudar todos os filhos da nossa Diocese, espalhados por todas as paróquias e também em países de imigração, sobretudo os mais afetados por esta pandemia. A todos entrego à solícita proteção de São Sebastião que, ao longo da história, tem sempre sabido defender quem dele implora pronto-socorro em situações difíceis de fome, de peste e de guerra. Quero saudar de modo particular o Sr. D. Jacinto, que hoje celebra o 26.º aniversário da sua Ordenação Episcopal, que teve lugar nesta Catedral no dia 20 de janeiro de 1996. Portanto, o Sr. D. Jacinto celebrou no ano passado as suas bodas de prata episcopais. Mas neste dia 20 de janeiro do ano passado estávamos, como sabemos, a atravessar uma fase crítica da pandemia, as igrejas estavam encerradas ao culto, e até o Sr. D. Jacinto estava com Covid-19. Nessas circunstâncias, não pôde celebrar nesta Catedral os 25 anos do seu episcopado. Mas temos este ano a alegria de celebrar com ele, não os 25, mas os 26 anos do seu episcopado. E lembro que 26 não é menos importante do que 25, pois 26 é o valor numérico das quatro letras que compõem o Nome YHWH (10 + 5 + 6 + 5). É por isso que quem canta o Salmo 136 repete por 26 vezes o refrão «Porque é eterno o seu amor». E se no final desse exercício, perguntarmos: «Quem é Deus?», a resposta torna-se evidente: «Deus é amor». E o seu amor é eterno.

2. Portanto, a nossa Igreja de Lamego está hoje em festa. A razão é porque celebramos hoje o nosso Padroeiro principal, São Sebastião, de quem recebemos a implorada e desejada proteção e a suprema lição, que não passa por um sermão, mas pela doação da própria vida. A nós, que aqui nos reunimos hoje, interessa-nos saber que foi Jesus Cristo a sua verdadeira razão de viver… e de morrer. Foi intensa a sua LUZ, imenso e notório o seu TESTEMUNHO no meio da cidade ensonada e coroada pelos ídolos frívolos.

3. No meio da cidade pestilenta e decadente de Roma, São Sebastião representa uma fonte de vida. Há a cidade dormente e sonolenta. E há, em contraponto, a cidade alumiada e atenta, que não se pode esconder sobre um monte. Não se pode apagar o horizonte. Não se acende uma LUZ para a colocar debaixo da ponte. De qualquer lugar se via, em qualquer lugar se via, que Sebastião trazia Cristo a arder no coração. Não o escondia. Por isso, o imperador romano, Diocleciano, quis fazer desaparecer este soldado de Cristo. Por isso, o fez morrer na grande perseguição que desencadeou contra os cristãos nos primeiros anos do século IV. O tirano, Diocleciano, fez o que podia fazer. Mas era pouco e tarde demais. Mandou quebrar o frasco cheio de perfume. Mas não se apercebeu que, ao quebrar-se o frasco, se soltaria o perfume, que nem o estrume de Roma podia apagar. E foi assim que o perfume intenso daquele amor imenso se espalhou por Roma e pelo mundo inteiro. Já sabemos que chegou também a Lamego esse cheiro intenso e perfumado, que sanava a fome, a peste e a guerra, mas também o frio, e sobretudo o vazio do coração e da alma, a descrença e a indiferença, a maior doença que corrói a sociedade.

4. Um documento manuscrito guardado na Biblioteca Nacional reporta uma grande peste em Lisboa e Alcácer do Sal em 1569 e 1570, que provocou muitas dezenas de milhar de mortos. O vocabulário é semelhante ao que nós usamos hoje: «cercas sanitárias», «isolamento», «quarentenas». Lê-se ainda, nesse documento que, no dia 22 de agosto de 1569, de uma imagem de São Sebastião escorreram grossas gotas de água claríssima que, recolhidas em lenços, curaram então muitas pessoas.

5. Acorda, Lamego, não tenhas medo! Coragem! Tem confiança! Ele chama-te! E diz-te, na página do Evangelho de hoje (Mateus 10,28-33), que vales mais do que muitos passarinhos. Se Deus, nosso Pai, cuida da vida dos passarinhos, que não semeiam nem ceifam, com quanto mais carinhos cuidará de nós, seus filhos queridos! Como a vida do Mártir São Sebastião, também a nossa está segura nas mãos de Deus (cf. Sabedoria 3,1), tão segura que está mesmo tatuada nas palmas das mãos de Deus (cf. Isaías 49,16). Como a dos sete jovens irmãos Macabeus e a do velhinho Eleazar, de 90 anos, como nos mostra hoje a história edificante e exemplar do Segundo Livro dos Macabeus, Capítulos 6 e 7. Portanto, levanta-te, Lamego, Igreja amada e desposada, acariciada, não abandonada (cf. Isaías 62).

6. Levanta-te e vai com os passarinhos, que não semeiam nem ceifam, mas voam e cantam os louvores do nosso Pai, que está nos Céus. Levanta-te e vai com São Sebastião, e enche este mundo de perfume e de unção, de oração, de comunhão e de paixão. Enche este chão bendito de estradas de Jericó, onde passa o próprio Deus, e se debruça sobre o teu pó, e o levanta e o beija.

7. Levanta-te e vai e ama e enche este mundo de bem e de Jesus. Dá tu também, e volta a dar, dá sempre, em cada casa, em cada rua, em cada canto, em cada estrada de Jericó, dá «a razão» (ho lógos) da tua esperança. São Pedro, na sua lição de hoje, interpela-nos a estar sempre prontos, atentos, preparados para dar a quem nos pedir o pão ou a razão da esperança que há em nós (lógon [perì] tês [en hymîn] elpídos) (cf. 1 Pedro 3,15). O pão e a razão (lógos) são dados concretos, não teóricos e abstratos. A razão (lógos) não é aqui um terreno intelectual ou um objeto do pensamento, uma amálgama de arrazoados, mas uma pessoa: Jesus Cristo. É Ele a razão, o Lógos, que era no principio, agora e sempre (cf. João 1,1-2), Filho de Deus e de Maria, «feito Homem como nós, e que no meio de nós veio habitar» (cf. João 1,14), «pelo qual tudo foi feito, e sem Ele nada foi feito» (João 1,3). Portanto, sem Ele, não haveria passarinhos, nem São Sebastião, nem eu nem tu, minha irmã, meu irmão.

8. É Jesus que São Sebastião, nosso Padroeiro, nos entrega hoje outra vez. Não para o guardarmos em alguma gaveta ou cofre-forte. Mas para o entregarmos generosamente aos nossos irmãos. Quando se celebra um mártir, não sobra lugar para o acidental, o marginal, o acessório. Um mártir não tem adereços. É Jesus que São Sebastião tem nos olhos e no coração. É Jesus a sua «razão» de viver. É Jesus a sua herança. É Jesus a sua esperança. Como quem diz: é Jesus a nossa herança. É Jesus a nossa esperança.

9. Jovem soldado, jovem mártir, São Sebastião, ensina a tua Igreja de Lamego, que proteges com heroica dedicação, a estar sempre pronta, preparada, diligente, para sabermos dar a quem nos pede «a razão» da nossa esperança, para sabermos dar Jesus aos nossos irmãos que no-lo pedem. A tua missão, Sebastião, é ser clarão, entregar a luz de Jesus a cada irmão. Se é a tua missão, é então também a nossa missão nestas estradas de Jericó ou de Lamego, em que diariamente nos cruzamos uns com os outros, e onde diariamente soa o mandamento do rosto nu do pobre, por quem tudo posso e a quem tudo devo, e com quem devo fazer caminho e comunhão.

 

Lamego, 20 de janeiro de 2022, Solenidade de São Sebastião, Padroeiro principal da nossa Diocese

+ António, vosso bispo e irmão

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