Parece que estamos a chegar ao fim destes tempos difíceis que vivemos juntos!
Sublinhei, no ano passado, que atravessávamos um período de uma enorme «solidariedade na dor, de um grande empenho no reinventar a proximidade e o cuidado com os mais frágeis». E isso – o que vivemos – não podemos perder agora que, a pouco e pouco, vamos retomando os gestos mais espontâneos de que quase nos íamos esquecendo.
Membros dos grupos de ação sócio caritativa ou das Cáritas Paroquiais, todos os que trabalham nas Cáritas Diocesanas e na Cáritas Portuguesa, cada um de vós tem consigo, passados estes meses, um saber único: a vossa experiência pessoal. Experiência de encontro reinventado, experiência de nova atenção aos pobres, pessoas idosas distanciadas dos centros urbanos, apoio a migrantes, e outras situações de carência emergentes, para serem capazes de os socorrer nas suas necessidades. Não ignoro a vossa preocupação acerca da sustentabilidade das respostas, mas estou certo: a vossa experiência corresponde a um saber e ao sabor do Evangelho, luz do mundo e sal da terra, que não se podem perder. Sabemos que só o amor transforma. É Cáritas. Só o amor tem essa força, esse dinamismo que é capaz de transformar o mundo em que vivemos numa terra de paz, num mundo de irmãos.
Celebrámos o ano passado, em plena pandemia, os 65 anos da Cáritas em Portugal: o amor que transforma. Transforma os corações e transforma a realidade em que vivemos. Continuemos o percurso vivido abrindo novos horizontes de fraternidade.
Este ano, chamo a vossa atenção para a amabilidade. Tão discreta e tão preciosa para este tempo que vivemos. O Papa Francisco, na encíclica Fratelli Tutti, diz-nos que, se formos amáveis, seremos capazes de: «prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta no meio de tanta indiferença. Este esforço, vivido dia a dia, é capaz de criar aquela convivência sadia que vence as incompreensões e evita os conflitos. O exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante nem uma atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura numa sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais» (n. 224).
A missão da Cáritas – o amor que transforma – é animar a nossa solidariedade com a delicadeza da amabilidade, para podermos viver efetivamente a nossa vida com todos, numa só família humana.
+ José Traquina
Bispo de Santarém
Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana