No passado dia 23 de julho, o Senhor Deus, Pai de bondade infinita, chamou à Sua presença eterna, o nosso irmão, Pe. Inocêncio António Dias Fernandes, aos 77 anos. Viveu os últimos tempos marcado pelo cancro e por diversos tratamentos.
Natural de Paipenela, no concelho da Mêda, nasceu a 4 de julho de 1945. Filho de Luís Augusto Fernandes e de Maria Isabel Dias da Cruz.
Foi ordenado diácono, na Capela do Seminário de Lamego, a 4 de novembro de 1968 e sacerdote, na Sé Catedral, pelas mãos do então Bispo da Diocese, D. João da Silva Campos Neves, a 31 de julho de 1969.
Tendo frequentado os dois seminários, o menor e o maior, depois de ordenado foi nomeado pároco de Lazarim e Meijinhos, a 15 de outubro de 1969; a 12 de janeiro de 1991, foi nomeado administrador paroquial de Lalim; a 4 de outubro de 2000, foi nomeado pároco de Bigorne e do Mezio, e a 16 de outubro de 2003, foi nomeado pároco de Melcões, no Arciprestado de Lamego.
Na tarde de Domingo, foram celebradas duas Missas, com o corpo presente, na Igreja da Graça e na Paróquia de Meijinhos, onde fez questão de ser sepultado. Presidiu à Eucaristia exequial, em Meijinhos, D. António Couto, que acentuou a sua entrega generosa no serviço ministerial, ao longo dos cinquenta e três anos de sacerdote, e a sua proximidade e solicitude pastoral que tinha para com todos os que lhe estavam confiados no exercício do seu ministério.
Deus lhe dê o eterno descanso.
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Ao Pe. Inocêncio António Dias Fernandes: No Domingo, vou concelebrar contigo
Testemunho de Mons. José Fernandes Bouça Pires
Passaram 53 anos da nossa Ordenação Sacerdotal que teve lugar em 31 de julho de1969. Era grande festa para a cidade de Lamego e muito mais para a Diocese, pois 4 jovens seriam ordenados sacerdotes e o seu Bispo de então, Sua Excelência Reverendíssima D. João da Silva Campos Neves completava 80 anos de vida o que fez deslocar uma dúzia de Bispos para o acontecimento.
Entre os 4 neossacerdotes estava o P.e Inocêncio que agora se juntou ao Pe. Manuel Pedro que o esperava, há alguns anos, na Casa do Pai onde existem muitas moradas para aqueles que O amam.
Sempre nos acompanhamos ao longo dos anos, pelos lugares por onde peregrinamos com histórias de aventuras e de cordialidade.
O Inocêncio nasceu numa terra distante, embora com história e estórias, na freguesia de Pai Penela, no concelho da Meda.
De pequena estatura, mas robusto, desde novo manifestou engenho e habilidade no campo desportivo.
No futebol era vê-lo esgueirar-se por entre a equipa adversária e rematar com força e perigo.
A letra “I” como inicial de seu nome antepunha-o ao “J” e, o facto levava-nos a manter alguma proximidade de carteiras e de quartos. As brincadeiras de jovens estudantes permitiam-lhes a eles e mais ainda ao nosso estimado colega Manuel Pedro pregarem algumas partidas. O Libório teve sempre algum jeito para trabalhos manuais e eu, um pouco mais para a criatividade e para as ideias.
Gostaria de referenciar tantos colegas amigos que continuam a sê-lo e que seguiram por outros caminhos, embora na mesma direção!... Segredos de vida, são segredos de Deus!... Não fomos nós que escolhemos, foi Ele que escolheu, não por sermos os melhores ou piores, mas porque Ele assim quis.
Depois de anos laboriosos de estudo, vieram as colocações. O rev.do Inocêncio teve em sorte as paróquias de Lazarim e Meijinhos onde foi muito apreciado, passaria mais tarde e mais rapidamente por outras paróquias, mas o seu coração ficaria preso a Meijinhos do concelho de Lamego onde por vontade própria haveria de ser depositado o seu corpo, no dia 26 de Julho de 2022.
Tive o privilégio de o acompanhar sempre e mais, nos últimos tempos da sua doença fatal. Nos cuidados paliativos, pudemos rezar juntos, pudemos confiar-nos nas mãos de Deus, na incerteza e esperança do dia seguinte. Ficou assente que aquele que fosse chamado primeiro, rezaria pelo outro.
Aproximava-se o dia aniversário da nossa ordenação, e ele diria, já falta pouco!...Ele tinha querido deixar os cuidados paliativos e regressara a sua casa tão perto da minha, mas que eu não a conhecia. O telefone foi meio insuficiente de proximidade. Ele me indicou as coordenadas e quase diariamente nos encontrávamos para rezar a hora respetiva da liturgia e recordar!...
Adiantei, vamos concelebrar aqui, um dia, para recordar a nossa ordenação. Eu trarei tudo o necessário!...-Este ano, o dia 31 de julho é domingo, é a festa de Nosso Senhor da Aflição!...-Não faz mal, eu vou lá concelebrar contigo!... Peço a quem te venha buscar?!...Não é preciso, pois tenho um casal amigo que me leva lá!...
Sempre telefonava. Antes e no dia da sua morte telefonei e ele disse-me: A noite passei-a mal, mas agora estou melhor!... - Queres que passe por aí?... - Tens muito trabalho hoje. Amanhã!... E fui concelebrar com ele, na igreja da Graça!... Eu, num altar e ele noutro!...
Mais do que nunca concelebraremos juntos!... sempre os quatro.
in Voz de Lamego, ano 92/37, n.º 4668, 3 de agosto de 2022