Os anos anteriores, de 2020 e 2021, não sendo para esquecer, foram marcados pelos cuidados sanitários, por algum distanciamento físico, seguindo recomendações das autoridades de saúde e da Conferência Episcopal Portuguesa, para que não houvesse concentração de pessoas nem deslocação de grupos. Em 2022, como expectável, as festas dos Remédios, como outras festas, regressaram na sua “plenitude”, com um variado leque de ofertas musicais, recreativas, desportivas. A participação das pessoas sentiu-se também na vertente religiosa.
Entre os dias 30 de agosto e 7 de setembro, a Novena em honra de Nossa Senhora dos Remédios, num crescendo de participação, na recitação do terço, na celebração da santa Missa e na pregação.
O dia 6 de setembro, num despertar madrugador, viu sair, em procissão, a imagem de Nossa Senhora dos Remédios em direção à Igreja das Chagas, para no dia da festa, incorporar a Procissão do Triunfo. Como em outros anos anteriores, o nosso Bispo presidiu à Procissão, com muitas pessoas a acompanhar, os escuteiros do Agrupamento 140 e militares do CTOE, na guarda de honra a Nossa Senhora.
O grande dia, 8 de setembro, festa da Natividade de Maria, solenidade de Nossa Senhora dos Remédios, dois momentos significativos e luminosos, a celebração da Missa solene e a Procissão do Triunfo.
Uma vez mais a Igreja do Santuário foi pequena para acolher os peregrinos, expandindo-se para o exterior. D. António Couto, na homilia, partindo da palavra de Deus, guiou-nos até a um contador de histórias, Jesus Cristo. As histórias não são impositivas, mas desafiadoras, envolvem-nos, levam-nos a tomar uma decisão. É Maria, que evocamos como Nossa Senhora dos Remédios, que dá à luz Jesus, o contador de histórias.
O Evangelho deste dia, Festa da Natividade de Maria, apresenta a genealogia de Jesus, com muitos nomes, muitas pessoas boas e más. A ideia é “que as pessoas boas se tornem melhores e as pessoas más se tornem boas”, num comboio conduzido por Jesus. Este é o último nome da genealogia, Jesus, o Emanuel, o Deus connosco. Ele é a chave de leitura, que há unir os elos todos. Miqueias profetiza que de Belém, a mais pequena nas cidades, há de sair alguém que contará a história de Israel.
Também Isaías dirá de um jeito semelhante, uma virgem conceberá à luz um filho, que será Emanuel! Contador de histórias que dirigirá a história e o mundo, não com poder, mas com a razão, com a razão encantada que nos encanta e envolve.
D. António prosseguiu dizendo que as histórias contadas por Jesus envolvem-nos a todos e todos juntos fazemos a história do mundo. Quando a história é dirigida por um só homem, bem vemos para onde se encaminha o mundo! Dois mil anos passados, não estamos a ser levados pelas histórias encantadas de Jesus, mas pelo poder!
Deus conta com todos! É a dinâmica sinodal. Vivemos em Sínodo, que o mesmo é dizer, em Igreja. No dizer de Santo Inácio de Antioquia, tu és sínodo e eu sou sínodo. Todos somos sínodos. O sínodo é aquele que é companheiro de caminho! Somos sínodos se somos companheiros de caminho! Como Aquele contador de histórias, que caminha, não apenas com os discípulos, mas com toda a humanidade. “Caminha com toda a humanidade e conta as suas histórias, as suas parábolas, para todos, para toda a humanidade. Ele é que o Sínodo por excelência, que caminha como companheiro de caminho, de cada um, de todos nós”. Santo Inácio, sucessor de Pedro, em Antioquia, quis dar testemunho d’Aquele contador de histórias, que o encantou. A ele, a mim, a Maria. Ser sínodos, segundo santo Inácio, implica ser portadores de Deus, da paz, do Espírito. Por sua vez, São João Crisóstomo diz que Igreja e Sínodo são sinónimos. Sínodo é também quando juntamos as nossas vozes em sinfonia, em coro, e assim elevamos até Deus as nossas orações. Pelo sim, pelo não, ele diz-nos para pormos, antes das palavras, as obras.
A finalizar a homilia, D. António fez-nos olhar para Maria, que “com o seu manto nos envolva a todos e nos ensine a viver sinodalmente, à volta da mesma mesa, sempre, e não apenas de vez em quando”, Ela que dá à luz o Senhor Jesus Cristo, o contador de histórias. Nas suas histórias somos envolvidos e chamados a tomar posição. Jesus coloca em crise e em causa o nosso coração, para que possamos contribuir para um mundo mais belo à imagem de Jesus e à imagem de Nossa Senhora da Natividade e de Nossa Senhora dos Remédios.
Da parte de tarde, um mar de gente, uns participando na Procissão, da Igreja das Chagas para a parada do CTOE, outras, postas ao longo do trajeto, para ver os andores, as bandas de músicas, as figuras de santos! Refira-se que integraram a Procissão cinco bandas de música, três do concelho, de Magueija, de Lalim e de Cambres, e mais duas, a de Tarouca, que já veio em anos anteriores, e a de Ferreirim, de Sernancelhe, a participar pela primeira vez.
A temática escolhida para os andores foi a Jornada Mundial da Juventude 2023, com alusão à Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Isabel, tema da JMJ, e com a presença de jovens da cidade, COD Lamego, devidamente vestidos com as t-shirt’s da JMJ 2023 e com os estandartes, e o transporte de uma cópia da CRUZ da Jornada Mundial da Juventude. Aliás, refira-se a presença dos jovens com uma barraquinha, na avenida, durante as festas; a noite dedicada à JMJ 2023, enquadrada na atuação dos Quatro e Meio; a participação na Batalha das Flores e na Marcha Luminosa, e, por outro lado, os jovens que diariamente marcaram presença na Novena em honra de Nossa Senhora dos Remédios.
A Procissão foi (e é habitualmente) composta por cinco andores, dois dos quais permanecem todos os anos, o de Nossa Senhora dos Remédios e o de Nossa Senhora da Assunção. Dois andores temáticos iriam nos anos da pandemia, em 2020 e 2021, mas como não se realizou a procissão integraram a deste ano, São João Paulo II, no centenário do seu nascimento (2020), e Coroação de Nossa Senhora, como Rainha de Portugal (2021). Seguindo a temática do ano, a JMJ 2023, outro dos andores foi dedicado à Visitação de Nossa Senhora.
A concluir a Procissão do Triunfo, na parada, as palavras finais do Sr. Bispo, com a bênção, o disparo dos canhões e a colocação da imagem de Nossa Senhora dos Remédios num outro andor, transportado num veículo militar até ao Santuário. A entrada da imagem de Nossa Senhora dos Remédios, na Igreja do Santuário, faz-se com ela virada para a cidade, como que rezando para que ela vele por todos os lamecenses e por quantos para ela dirigem as suas preces.
in Voz de Lamego, ano 92/42, n.º 4673, 14 de setembro de 2022