A Palavra de Deus, como facilmente se conclui, não é para estar aprisionada em livros e em estantes, nas igrejas ou em lugares privados. A palavra de Deus é como o fogo que arde, incendeia, queima, purifica; é como o vento forte que limpa a eira, que afasta os ares doentios, que abana, para que as folhas caiam e os ramos que estão a mais, para que os frutos, maduros, se desprendam. A Palavra de Deus não está encadeada é o título com que D. António Couto juntou onze (dez + uma) Cartas Pastorais, com dirigiu à mui nobre diocese de Lamego que pastoreia, desde 2012.
Logo a abrir, na Introdução diz o nosso Bispo sobre esta obra: “Reúne esta Coletânea dez Cartas Pastorais, tornadas públicas na abertura de cada um dos dez anos pastorais, de 2012-2013 a 2021-2022, para servir de bússola e dinâmica pastoral à ação do Bispo Diocesano, dos Presbíteros em ação pastoral e dos Fiéis Leigos da nossa Diocese de Lamego. A sua publicação agora ao lado umas das outras, em livro, serve de Arquivo, de Memória e de permanente interpelação, pois há sempre desafios que devemos continuar a fiar e desfiar. Passaram dez anos. Mas o passado não é apenas aquilo que passa. É também, e sobretudo, aquilo que se passa. Na verdade e bem vistas as coisas, o passado ou passa ou se passa. E, em boa verdade, só passa quando não se passa. Entrego ainda ao leitor e ao arquivo a homilia proferida na Eucaristia da minha entrada na Diocese de Lamego. Aparece logo a abrir a Coletânea, pois pode servir como chave de leitura das Cartas Pastorais e de todo o labor pastoral a que me dediquei nestes dez anos. Adianto que todas as Cartas contêm importantes atualizações em relação ao tempo em que foram pela primeira vez publicadas. E já agora, porque ficou pronta um destes dias (ainda dentro do ano 2022), incluo a fechar, como bónus, a Carta Pastoral para o ano pastoral 2022-2023. Portanto, Cartas Pastorais: dez + uma!”.
Desta forma, facilita a vida a quem quer revisitar os textos com que D. António Couto nos brinda cada início de ano pastoral, num manancial de sagrada Escritura, história, filosofia, teologia e com os tais acenos pastorais, na preocupação permanente de anunciar o Evangelho e ajudar-nos a vivê-lo neste chão diocesano. “Nestas Cartas encontrará o leitor múltiplos acenos de índole pastoral. Portanto, muita Evangelização, isto é, vivência e transmissão da fé, muito Evangelho com os desafios que ele impõe, sobretudo de ordem paradigmática, metodologias várias, viáveis, praticáveis. Encontramos a Igreja, que é Santa, como professamos no Símbolo Niceno-Constantinopolitano e no Símbolo dos Apóstolos. Torna-se hoje necessário acentuar o nosso amor à Igreja Santa, Esposa de Cristo, nossa Mãe, porque os tempos são difusos, atravessados por muitas ideologias, que turvam e perturbam as consciências, e as pessoas são facilmente tentadas a olhar para a Igreja de forma enviesada. Enfim, temáticas como a família são também apresentadas com novas perspetivas”.
A terminar, sublinha o senhor Bispo: “Os tempos e modos perfeitos implicam continuidade. Os aoristos implicam recomeçar sempre de novo, outra vez e outra vez e outra vez. Os passivos (passivo divino ou teológico) fazem Deus descer à cena, de mansinho, pé ante pé, como sujeito, sem ser preciso nomeá-lo. Assim nunca fica Deus sozinho; nunca Deus me deixa só. Andamos os dois nos interstícios do texto e da vida. Em suma, o que deixo nestas Cartas e nestes dez anos de pastoral nos caminhos de Lamego é apenas a devotação, o afã e o meu compromisso radical com a Palavra de Deus, que eu sei e sinto que é a minha vida, ou melhor: é a Vida de Deus em mim. É esta a minha única riqueza, que quero entregar a todos os irmãos que já encontrei e ainda encontrarei com a graça de Deus”.
É a vida de Deus em mim! É esta a riqueza que D. António quer legar à diocese, aos presbíteros, religiosos e leigos e a todos quantos acederem a esta coletânea de Cartas Pastorais. Boa leitura.
in Voz de Lamego, ano 93/05, n.º 4684, 7 de dezembro de 2022