O teólogo W. Kasper fala da “tradição” como a possibilidade do homem se alavancar nos ombros da geração anterior que o acolhe, protege, acompanha, apoia e lhe proporciona conhecimentos, técnicas e experiências. Dito de outra maneira, cada geração beneficia das vivências, descobertas e avanços das gerações anteriores.
No entanto, ao olharmos para a sociedade actual, somos capazes de a perceber como uma sociedade que se caracteriza como “pós-tradicional” (D. Hervieu-Leger), marcada pela “cultura da amnésia” (J. B. Metz) que a leva a esquecer-se de que o homem não é apenas a sua própria experiência, mas também a sua memória.
Numa época marcada pela diversidade, pelos desenvolvimentos tecnológicos e pelo ambiente urbano, as tradições perdem relevância, tal como as instituições que as defendem e promovem (família, Igreja…). Importa o momento presente, a ânsia de esgotar todas as possibilidades, a diversão constante, o gozo individual e a possibilidade de esquecer rapidamente (factos e pessoas).
Mas se a amnésia se impõe face ao acontecido, também se pode vislumbrar uma certa desresponsabilização diante das gerações futuras, a quem caberá “desenrascar-se” a seu tempo. E esta postura de quem vive como se não existisse um antes e um depois, leva a falar do “homo clausus”, ou seja, “de homem que vive para si mesmo, isolado, como mónada separado do mundo exterior” (L. Manicardi).
O mês de novembro (também) pode ajudar a contemplar as gerações passadas, a admirar os seus feitos e a valorizar o seu legado, ao mesmo tempo que convidará a sair de si e a olhar para diante, a descobrir-se limitado, mas capaz de contribuir para a geração futura. Uma rápida visita ao cemitério aviva a memória e convida a ultrapassar algum individualismo.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 87/49, n.º 4435, 7 de novembro de 2017