Em pleno Outono, quando a natureza se despede do verde e as cores amarelecidas anunciam o inverno, os cristãos professam a sua fé na comunhão dos santos e suplicam em favor dos que já partiram. Amanhã iniciamos o mês de novembro, o penúltimo do ano.
E falar do “mês das almas” é também lembrar a morte, essa temível e desconfortável realidade que esta sociedade vai escondendo, o que leva a caracterizá-la como “sociedade pós-mortal”. Não porque a morte tenha sido suspensa, como no livro de Saramago “As intermitências da morte”, mas porque paira a convicção de que o progresso acabará por retardar tal momento. Uma sociedade que se caracteriza pela “vontade de viver sem envelhecer, de vencer a morte com a técnica, de prolongar indefinidamente a vida” e que desafia o homem a preparar-se para “gerir a morte” (eutanásia).
Contudo, a morte continua a ser um obstáculo limitador do homem e do progresso ilimitado. O homem sabe que tem de morrer e isso incomoda-o, apesar do aumento da esperança de vida e do acréscimo de longevidade que prolonga a velhice e torna mais longa a espera da morte.
A religião também é afectada, já que se espera “da técnica, das tecnociências, das ciências biomédicas, aquilo que outrora se esperava da religião, ou seja, o sonho do prolongamento indefinido da vida”. Dito de outra maneira, espera-se que a ciência traga o que a religião prometeu durante séculos.
Para quem deseje ler algo sobre o tema, fica a sugestão do livro “Memória do limite. A condição humana na sociedade pós-mortal”, de Luciano Manicardi, no qual se expressa uma proposta de reflexão para melhor nos situarmos e avançarmos rumo a uma “ética da morte”, onde se conjuguem realidades como vulnerabilidade, compaixão, cuidado ou dignidade.
in Voz de Lamego, ano 87/48, n.º 4434, 31 de outubro 2017