A Casa da Mãe é, sem dúvida, o lugar indicado para falar da vida dos Seus filhos.
Foi o que aconteceu na noite de 13 de Junho. Após mais uma procissão pela Mata, o Santuário pôde escutar uma magnífica intervenção do Padre Doutor Anselmo Borges, da Sociedade Missionária da Boa Nova e oriundo de São Pedro de Paus (Resende).
Partindo da pergunta «Será legítimo programar a morte?», defendeu que a morte pode (e deve) ser preparada, mas não provocada.
Numa sociedade pós-cristã, a morte desponta como o maior tabu, mas ao mesmo tempo como uma grande constante. Ou seja, não se fala da morte, mas pratica-se a morte, provoca-se a morte.
A principal notícia de que cada um de nós é portador é que Deus é amor. Daí que tenha sido pelo Cristianismo que os direitos humanos vieram ao mundo.
Assim sendo, a eutanásia (por muito acolhimento que encontre no senso comum) constitui um retrocesso civilizacional, O Padre Anselmo Borges, evocando a tragédia de Antígona, estabeleceu uma distinção entre o plano legal e o plano moral.A eutanásia, ainda que venha a ser legal, nunca será moral.
Alertou ainda para o risco da eufemização da linguagem. Em vez de eutanásia, há quem fale de «morte assistida».
Quem não quer uma morte assistida? Precisamos de assistência na vida e na morte. Precisamos de ser medicamente assistidos, familiarmente assistidos, afectivamente assistidos, espiritualmente assistidos.
Assistir na morte não pode ser provocar a morte, mas acompanhar até à morte.
O Padre Anselmo Borges foi mesmo ao ponto de advertir que a introdução da eutanásia iria simplificar as contas do Estado, passando este a ter mais um dever: o inqualificável «dever de matar».
Portugal, que foi pioneiro na abolição da pena de morte, tem deveres acrescidos na oposição que deve ser feita à cultura da morte.
D. António Couto, Bispo de Lamego, que presidiu a mais esta procissão, encerrou o encontro agradecendo o clarividente testemunho do Padre Anselmo Borges.
SAS (Serviço de Apoio ao Santuário), in Voz de Lamego, ano 88/29, n.º 4466, 19 de junho de 2018