“Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos, à tua procura” (Lc 2, 48).
Entre os poucos acontecimentos narrados nos Evangelhos que envolvem a Sagrada Família de Nazaré está o episódio da “perda e do encontro de Jesus no templo”. Trata-se de um facto inesperado, que causa aflição e angústia a Maria e a José. Mas o mesmo serve para tomarmos consciência de que a Palavra de Deus não nos apresenta “uma imagem idealista e abstracta da família”, mas uma família concreta, com problemas, dificuldades e desafios.
A família não está isenta de crises e o grande desafio será o de “reagir perante qualquer crise”. Neste caso, como em tantos outros, os pais são confrontados com o “desafio educacional”, muito diferente de uma qualquer “obsessão”, que não é educativa (cf. AL 261).
O referido desafio educacional exige aos pais a disponibilidade para estar, escutar, acompanhar… Muito mais do que apenas providenciar e multiplicar actividades para os filhos. Importa antes “promover liberdades responsáveis” e estar disponível para a “surpresa” que um filho sempre é, porque é mistério.
E diante do mistério do filho, “a atitude verdadeira nunca pode ser de julgamento, desilusão, acusação, condenação”, embora seja sempre oportuno perguntar e questionar, privilegiando o relacionamento.
Apesar dos meios e possibilidades, a verdade é que há um certo “analfabetismo afectivo”, assente na “cultura do provisório”, onde “tudo é descartável” e se desencorajam os mais novos a constituir família.
A Família de Nazaré pode ser um farol não ideal, mas real, que mostra a “alegria do amor”.
Para refletir:
- “De que modo uma crise familiar pode tornar-se fonte inesgotável de graça?”
- “Ser pais e mães é a missão mais difícil e complexa. De que modo a Igreja é chamada a contribuir nesta missão singular e única?”
JD, in Voz de Lamego, ano 88/29, n.º 4466, 19 de junho de 2018