“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa” (Lc 2, 41)
A peregrinação vivida pela Família de Nazaré, cumprindo os preceitos do tempo, revela a profundidade religiosa que anima os seus membros. Juntos empreendem um longo caminho, vencendo dificuldades e imprevistos, para celebrar a Páscoa e dar graças pela libertação do seu povo, fazendo memória do amor salvador de Deus.
A Palavra de Deus interpela o coração de Maria e de José e, porque fazem a experiencia singular dessa Palavra nas suas vidas concretas, peregrinam até Jerusalém, pela Páscoa. E, com tal exemplo, a Família de Nazaré ensina-nos a todos que “a Palavra de Deus não é uma transmissão de verdades religiosas ou uma catequese ou um ensinamento de normas morais para serem postas em prática; a Palavra é uma relação viva e profunda com Deus, que se torna história na vida de cada família”.
A transmissão da fé é mais que o ensino de normas; é uma experiência viva e concreta de Deus. Se isso não acontecer, a fé corre o risco de ser reduzida a um mero ritualismo que se cumpre dentro do lugar de culto, mas que não se experimenta no dia-a-dia.
Nos nossos dias, semanalmente ou em dias festivos, continuamos a ver famílias inteiras a viver a sua fé em comunidade. Mas importa também que os casais compreendam que o mistério pascal pode e deve ser vivido no lar e na família que formam, todos os dias, em todos os acontecimentos pessoais e familiares.
E é nesta vida diária, nem sempre isenta de sofrimento e de situações de desencontro, que a Palavra de Deus pode ser fonte de vida e espiritualidade para a família. Como lembra o Papa Francisco, “A Palavra de Deus é não só uma boa nova para a vida privada das pessoas, mas é também um critério de juízo e uma luz para o discernimento dos vários desafios que têm de enfrentar os cônjuges e as famílias” (AL 227).
A Palavra de Deus dá a cada família a sabedoria da vida e a luz necessárias para poder interpretar cada acontecimento familiar.
Para reflectir…
- Porque e que a Palavra de Deus é vista, muitas vezes nas famílias, como algo distante, puramente religiosos e incompreensível? Quais são as causas e quais as propostas possíveis?
- Assistimos, cada vez mais, a uma menor frequência de católicos nas nossas liturgias e detemo-nos, frequentemente, sobre este sinal externo, sintoma de uma problemática mais profunda. De que modo poderia ou deveria a Igreja enfrentar esta situação?
JD, in Voz de Lamego, ano 88/30, n.º 4467, 26 de junho de 2018